segunda-feira, 7 de novembro de 2016

ARTIGO DE OPINIÃO SEMIFINALISTA NA OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA: OFICINA REGIONAL EM SÃO PAULO

ALUNO:


JÚLIO CÉSAR DE LIMA NUNES          TURMA: 3º MÉDIO C    ESCOLA TOMÉ FRANCISCO -QUIXABA - PE

PROFESSORA: ROSINEIDE ALVES DE ALMEIDA OLIVEIRA


Dois estados, dois municípios e uma Lagoa seca

          A água é um bem indispensável à vida que está extinguindo-se do planeta Terra. Pesquisas e mais pesquisas sobre o assunto atestam que a escassez do “ouro azul” no mundo não é apenas profecia, mas uma realidade que já começamos a presenciar. Em Lagoa da Cruz, o lugar onde vivo, já constitui um fato. Com cerca de 2000 habitantes, o distrito está localizado no sertão pernambucano, ou, para ser mais preciso, “pernamparaibano”, pois parte do seu minúsculo território encontra-se em terras do estado da Paraíba. Quixaba, PE e Princesa Isabel, PB; dois municípios, um distrito: realidades diferentes.
 Há três anos não temos água nas torneiras, sendo a comunidade abastecida por carros-pipa. Uma vez por mês, a prefeitura coloca em cada casa o equivalente a 1.000 litros de água; diariamente, quem precisar do precioso líquido deve pegar em latas nas cisternas comunitárias. Consequência desta situação é também o êxodo rural, dezenas de ônibus saem de nossa região,  lotados de homens que deixam suas famílias em busca de trabalho no Sul do país, pois a estiagem traz a falta de tudo por aqui.
Esta situação é desesperadora, embora a comunidade  ainda não tenha despertado para o tamanho do problema. Como resolvê-lo? Quando teremos água para chamar de “nossa”? Por que Lagoa da Cruz não é contemplada com os mesmos benefícios das cidades-sede dos municípios aos quais pertence? 
Deixe-me ser mais claro: enquanto não temos água em Lagoa da Cruz, na cidade de Quixaba nunca faltou o líquido precioso, pois dispõe de um manancial que dá conta de seus habitantes e recentemente foi beneficiada pela Adutora do Pajeú, obra da transposição do Rio São Francisco, cujas instalações encontram-se a menos de 20 km do lugar onde vivo. A cidade de Princesa Isabel, nosso município por parte da Paraíba, embora esteja sem água no momento, logo será também banhada pelas águas da adutora. Segundo dados da Wikipédia, o projeto de transposição do rio São Francisco, quando concluído, beneficiará 12 milhões de pessoas e 112 municípios em todo o país. Porque uma população tão pequena como a de Lagoa da Cruz não poderá entrar nesta estatística? Por que essa obra não pode chegar até nós, já que também somos quixabenses e princesences? 
Reconheço que alguns esforços do poder público dos dois municípios já foram feitos para amenizar nossa situação, como o atendimento com os carros-pipa, a construção de cisternas e a perfuração de dois poços. Porém, estas ações, a meu ver, não solucionam o problema por dois motivos: a vazão dos poços é insuficiente e as águas subterrâneas tem apresentado muita salinidade; característica constante no semiárido nordestino, conforme atestam pesquisas de várias universidades. São construídas cisternas, mas para armazenar o quê, se dependem exclusivamente da água da chuva?
Em minha opinião, um distrito carente como o meu, pertencendo a dois municípios deveria ser bem cuidado e nunca desamparado pelo poder público. Falta alguém que olhe com os olhos da mudança para o meu lugar, pois água de carro-pipa não é solução, é paliativo. Os mananciais das cidades solidárias que estão fornecendo água para os carros-pipa não suportarão grandes retiradas por muito tempo. Então, o que faremos? 
Por isso defendo que a melhor solução para nosso distrito seria o abastecimento de água pela Adutora do Pajeú, já que a possibilidade de encher o nosso antigo açude está descartada porque a seca continua cruel como sempre. Além disso, proprietários de terras vizinhas ao manancial construíram açudes particulares nas suas vertentes (esta é outra questão polêmica e prova do descuido com Lagoa da Cruz). 
Tenho certeza de que se dependesse da vontade do “Velho Chico”, nossa Lagoa não ficaria sem água, até porque o consumo da população é pequeno. Acredito que o problema está mesmo é na falta de ações humanas; afinal, em épocas passadas não havia o progresso e a infraestrutura que existe hoje no Nordeste. Temos representantes do poder legislativo na comunidade, mas estes não se pronunciam no caso e a população pouco cobra deles. Permanecem inertes diante da situação. 
Lagoa da Cruz, cujo nome originou-se de lagoas cheias de água que cobriam suas terras antigamente, hoje é uma lagoa seca. Gostaria de viver numa Lagoa com água, por isso acredito que precisamos de uma grande mobilização da comunidade: igrejas, escolas, famílias, sociedade civil e representantes políticos. Assim, o problema da água em Lagoa da Cruz teria alguma chance de ser resolvido. Enquanto isto não acontece, ficaremos à mercê do destino, orando na capela, fazendo procissão e promessas para São José como nossos antepassados.