segunda-feira, 5 de novembro de 2018
Entre o distrito de Lagoa da Cruz e o Canadá, a Matemática

Credenciais não faltam, a julgar pelo relato de
Maria do Bom Conselho Freitas. Mestre em Matemática Pura e Aplicada e
professora da rede pública de Pernambuco há mais de duas décadas, ela sabe bem
do que o adolescente é capaz.
“Nos 22 anos em que trabalho na Escola Tomé
Francisco da Silva, tive a oportunidade de trabalhar com diversos alunos,
alguns muito inteligentes, esforçados, com vontade de vencer, alunos brilhantes
com raciocínio lógico diferenciado. Dois foram muito especiais: um faz
Matemática na Universidade Federal da Paraíba; o outro é Leandro.”
Bom Conselho o conheceu em 2014, quando ele passou
a frequentar aulas de aprofundamento em Matemática. À época, o estudante fora
classificado para a segunda fase da OBMEP. Dois anos depois, quando Leandro
virou seu aluno no ensino regular, o contato se estreitou. “Passei a admirá-lo
ainda mais. Inteligente e disciplinado. Humilde, não se deixou abater pelas
dificuldades. Está sempre agarrando as oportunidades”, observa.

Aluno do 2º ano do Ensino Médio da Tomé Francisco
da Silva, em Quixaba (PE), Leandro conquistou três pratas e um ouro na OBMEP. A
premiação máxima o trouxe ao Rio no ano passado para receber a medalha, o que
considerara inimaginável.
“Nunca passou pela minha cabeça que um dia fosse à
premiação no Rio de Janeiro. Sou de família pobre. Meu pai e minha mãe
sustentaram e educaram seis filhos no cabo da enxada. Recebíamos um pequeno
auxílio do governo por meio do programa Bolsa Família. Mesmo com todo o sufoco,
eles faziam o máximo para que pudéssemos estudar e não faltar nada.”
“Com a educação, a situação pode melhorar”
No lar dos Ferreira da Luz, as conquistas de
Leandro são motivo de orgulho. A família já enfrentou muitas dificuldades, mas
Adeilda crê que, com a educação, a situação pode melhorar. “A família é muito
grande, mas a gente vai em frente, com fé em Deus e no estudo, que é uma coisa
muito importante na vida de todos. Leandro, um dia, há de ter um futuro bom, um
trabalho para se manter.”
Embora ninguém da família já tenha estudado em
universidade, Leandro conta que nenhum dos seis filhos vive “preso à roça”. Os
dois mais velhos são caminhoneiros e entregam ovos produzidos em uma granja de
Princesa Isabel.
As duas irmãs mais velhas moram em João Pessoa e
São Paulo. Leandro permanece em Lagoa da Cruz com a caçula. Ele acha que a vida
melhorou. Os pais já não recebem o Bolsa Família. Rogaciano começou a trabalhar
em uma granja, recebendo salário mínimo.
Agora, Leandro sonha com o Canadá. Foi selecionado
para intercâmbio no país pelo Programa Ganhe o Mundo, da Secretaria de Educação
de Pernambuco.
E se ingressar na medicina, a Matemática, que lhe
abriu tantos caminhos, há de acompanhá-lo. “Ela está em tudo. Independentemente
de minha escolha, irei conviver com ela no meu dia a dia.” Torcida para que
realize esse desejo não falta.
Por Karine Rodrigues
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