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quinta-feira, 8 de novembro de 2012
NOTICIA PUBLICADA NO JORNAL DO COMMERCIO.
Um exército que luta pela educação nota 10
Nathalia Pereira
O comprometimento dos que fazem a escola, destaque do Sertão para o resto do País, é o que diferencia a Tomé Francisco das outras unidades
Bernardo Soares/JC Imagem
Não é fórmula do outro mundo, nem especialista vindo de fora. Vem do povo muito da força que faz a Escola Estadual Tomé Francisco da Silva, na zona rural de Quixaba, Sertão do Pajeú, ser reconhecida pelo sucesso do projeto pedagógico que aplica. A medida é simples, apesar de ser grande desafio para boa parte das escolas públicas brasileiras. Mais de 10% da população de Quixaba estudam na instituição, que recebeu segunda-feira o Prêmio de Gestão Escolar (PGE) 2012. A escola fica no povoado de Lagoa da Cruz, onde praticamente todos os moradores vivenciam o cotidiano escolar. “É um lugarzinho no meio do nada, mas hoje é referência para o Brasil”, diz o diretor da unidade, Ivan Nunes. E o mérito de tantos aplausos não cabe a um homem só. Ivan é apenas um no exército que se esforça diariamente para manter e aprimorar a excelência da escola.
A cada dois meses, as famílias dos 800 alunos matriculados na unidade são recebidas na escola pelos estudantes, professores e gestores. O objetivo é discutir o desempenho dos meninos, deixar os pais a par das atividades e abrir espaço para sugestões. Simples, a medida é apontada como um dos segredos da Tomé Francisco. E os pais saem de onde estiverem para não perder o encontro. A média de frequência das famílias às reuniões fica entre 96% e 98%.
A vontade de garantir a qualidade da educação no município é plantada em toda população de Quixaba, povoada por 6.739 pessoas. Para entender a relação entre moradores e escola, basta o visitante prestar atenção na festa que eles fizeram pelas ruas após a divulgação do resultado do PGE. A cidade fez um Carnaval para festejar mais uma vitória do ensino. Essa reação, de quem sabe que contribuiu com a conquista, durou o resto da segunda-feira, mas na terça, nada de feriado improvisado. “Mantivemos o dia de aula normal. Não podemos parar”, disse a diretora adjunta da unidade, Rosineide Alves.
A curta história da cidade, fundada há 21 anos, tem elementos que podem justificar o envolvimento com a evolução educacional.Seu primeiro prefeito, Antônio Ramos da Silva, era analfabeto. Ex-lavrador, ele comandou a execução de um grande plano educacional. Investindo na educação, acreditava ser capaz de revolucionar a cidade. Hoje, o índice de analfabetismo em Quixaba é de 28,2%. De acordo com o resultado da Prova Brasil, 40% dos estudantes do município aprenderam o adequado em leitura e interpretação de textos até o quinto ano. A média é maior do que a brasileira (32%) e a pernambucana (15%).
Na Escola Tomé Francisco da Silva, 66% dos estudantes que fizeram a prova obtiveram desempenho positivo. Até 2022, o Movimento Todos Pela Educação espera que 70% dos brasileiros que fizerem as provas tenham conhecimento adequado sobre essas competências. Ou seja: faltam apenas 4% para que a unidade alcance a meta que o País deve atingir em dez anos.
40% dos estudantes do município aprenderam o adequado em leitura e interpretação de textos até o quinto ano. A média é maior do que a brasileira (32%) e a pernambucana (15%)
A escola tem programas de incentivo à leitura e à escrita, como o Café Literário, Literarte e Prazer de ler. Quem vai mal em alguma disciplina tem acesso a aulas de reforço, com ajuda dos amigos monitores. Os estudantes participam de diversas olimpíadas nacionais, como a de português, matemática e astronomia e trazem medalhas e menções honrosas à cidade anualmente. Na última terça-feira, depois de entregar ao diretor da Tomé Francisco da Silva, Ivan Nunes, a medalha da Ordem do Mérito Guararapes, o governador do Estado, Eduardo Campos, citou Paulo Freire para explicar o sucesso que a instituição de Quixaba tem e que falta a muitas escolas estaduais de referência: “A escola é feita de gente”, parafraseou.
OPINIÃO DO LEITOR: Escola de referência Brasil 2012, por Eugênio Marinho
*Eugênio Marinho (Empresário)
Encravada em pleno semi-árido nordestino, no coração da adversidade, com recursos escassos, dificuldades extremas, nasce a referência. Não fosse realidade, poderia perfeitamente servir de exemplo para uma grande utopia. Diante do fato, só cabe uma enorme reflexão: Que força é esta, capaz de fazer a escola estadual Tomé Francisco da Silva, localizada na zona rural de Quixaba, no sertão do Pajeú, dirigida por Ivan José Nunes, se tornar entre as 9.693 escolas de todo o país que participaram da disputa, a escola referência do Brasil 2012?
Teríamos, todos nós, em nosso interior, esta energia capaz de vencer tamanha adversidade? Aos pessimistas, aos que não têm determinação, aos que acham que o Brasil é assim mesmo, uma terra de oportunistas, a presença incomoda desta exceção, dizendo alto sem gritar, tudo, na verdade, é uma questão de opção. Podemos optar por reclamar, por dizer que no nosso caso é diferente, por colocar a culpa nos outros, no sol escaldante, na chuva intensa, na falta dela. Podemos optar por dizer que a culpa é do capitalismo, da opressão da classe dominante sobre a proletariada ou talvez que tudo é culpa do imperialismo americano.
Podemos optar por jogar a culpa nos políticos, que nós mesmos escolhemos. Podemos optar, por qualquer justificativa, que não nos deixe constrangido diante da verdade, da verdade escancarada por esta escola: Tudo, na verdade, depende de nós, da nossa conduta diante das adversidades, da nossa força e dedicação para querer superá-las.
Nesta escola, certamente aprende-se matemática, português e todas as outras matérias curriculares, mas o maior ensinamento que a mesma presta, não só aos seus alunos, mas a todos nós brasileiros, é que o Brasil que procuramos está dentro de cada um de nós, nas nossas atitudes diante dos problemas e não nas lamentações e justificativas para não enfrentá-los. Obrigado pelo exemplo, parabéns pela conquista.
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